sexta-feira, 12 de março de 2010

Egas Moniz – Prémio Nobel

Biografia

António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, nasceu em Avanca a 29 de Novembro de 1874 e faleceu em Lisboa a 13 de Dezembro de 1955, foi um médico, neurologista, investigador, professor, político e escritor português.

Foi galardoado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1949, partilhado com Walter Rudolf Hess.

Nascido António Caetano de Abreu Freire no seio de uma família aristocrata rural, seu tio e padrinho, o padre, Caetano de Pina Resende Abreu Sá Freire, insistiria para que ao apelido fosse adicionado Egas Moniz, em virtude de a família, descender em linha directa de Egas Moniz, o aio de Dom Afonso Henriques (1080-1146).

Formação e actividade académica

Completou a instrução primária na Escola do Padre José Ramos e o Curso Liceal no Colégio de S. Fiel, dos Jesuítas.

Formou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, onde começou por ser professor substituto, leccionando anatomia e fisiologia. Em 1911 foi transferido para a recém-criada Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa onde foi ocupar o lugar de neurologia como professor catedrático. Formou-se em Fevereiro de 1944.

Em 1950 é fundado, no Hospital Júlio de Matos, o Centro de Estudos Egas Moniz, do qual é presidente. O Centro de Estudos é, em 1957 transferido para o serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria onde existe ainda hoje, compreendendo, entre outros, o Museu Egas Moniz (onde se encontra montado o seu gabinete de trabalho com as peças originais, vários manuscritos, entre outros).

Egas Moniz contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da medicina ao conseguir pela primeira vez dar visibilidade às artérias do cérebro. A Angiografia Cerebral, que descobriu após longas experiências com raios X, tornou possível localizar neoplasias, aneurismas, hemorragias e outras más-formações no cérebro humano e abriu novos caminhos para a cirurgia cerebral.

As suas descobertas clínicas foram reconhecidas pelos grandes neurologistas da época, que admiravam o cuidado das suas análises e observações.

Actividade política

Egas Moniz teve também papel activo na vida política. Foi fundador do Partido Republicano Centrista, dissidência do Partido Evolucionista, apoiou o breve regime de Sidónio Pais, durante o qual exerceu as funções de Embaixador de Portugal em Madrid (1917) e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1918), viu entretanto o seu partido fundir-se com o Partido Sidonista. Foi ainda um notável escritor e autor de uma notável obra literária, de onde se destacam as obras "A nossa casa" e "Confidências de um investigador científico".
 
Obra
 
Actividade científica

Como investigador, Egas Moniz, contando com a preciosa colaboração de Pedro Almeida Lima, destacou-se em duas técnicas: a leucotomia pré-frontal e a angiografia cerebral.

Prémio Nobel

Egas Moniz foi proposto cinco vezes (1928, 1933, 1937, 1944 e 1949) ao Nobel de Fisiologia ou Medicina, sendo galardoado em 1949, acontecendo alguns meses depois de ter publicado o primeiro artigo sobre a encefalografia arterial e, subsequentemente, ter feito, no Hospital de Necker, em Paris, uma demonstração da técnica encefalográfica.

Lobotomia Efeitos e Utilidade Terapêutica

A lobotomia, mais apropriadamente chamada leucotomia (já que lobotomia refere-se a cortar as ligações de qualquer lobo cerebral) é uma intervenção cirúrgica no cérebro, onde são seccionadas as vias que ligam os lobos frontais ao tálamo e outras vias frontais associadas. Foi utilizada no passado em casos graves de esquizofrenia. A lobotomia foi a técnica pioneira e com maior sucesso da psicocirurgia. O procedimento leva a um estado algo sedado de baixa reactividade emocional nos pacientes. Existem controvérsias sobre os resultados do procedimento.

História

Foi desenvolvida em 1935 pelo médico neurologista português António Egas Moniz em equipa com o cirurgião Almeida Lima, na Universidade de Lisboa.

A Leucotomia foi a primeira técnica de Psicocirurgia ou seja, a utilização de manipulações orgânicas do cérebro para curar ou melhorar sintomas de uma patologia psiquiátrica (em contrapartida à neurocirurgia que se ocupa de doentes com patologia orgânica directa ou neurológica).

Inicialmente foi usada para tratar depressões severas mas Egas Moniz sempre defendeu o seu uso apenas em casos graves em que houvesse risco de violência ou suicídio. No entanto apesar de cerca de 6% dos pacientes não sobreviverem à operação, e de vários outros ficarem com alterações da personalidade muito severos, foi praticada com entusiasmo excessivo em muitos países, nomeadamente o Japão e os Estados Unidos. Neste último país foi popularizada pelo cirurgião Walter Freeman, que divulgou a técnica por todo o seu país, percorrendo-o no seu Lobotomobile, e criando inclusivamente uma variante em que espetava um picador de gelo directamente no crânio do doente, desde um ponto logo acima do canal lacrimal com a ajuda de um martelo, rodando depois o mesmo para destruir as vias aí localizadas. Supostamente a atractividade deste procedimento seria o seu baixo custo e o desejo social de silenciar doentes psiquiátricos incómodos. A leucotomia ganhou tal popularidade que foi inclusivamente praticada em crianças com mau comportamento. Cerca de 50.000 doentes foram tratados só nos Estados Unidos. Graças a estes abusos, bem como a irreversibilidade dos seus resultados, a leucotomia foi abandonada quando surgiram os primeiros fármacos antipsicóticos. A leucotomia foi banida da maior parte dos países onde era praticada, a partir dos anos 50. A sua aplicação em grande escala é hoje considerada como um dos episódios mais bárbaros da história da Psiquiatria, sendo comum a sua comparação com a técnica da flebotomia (ou sangria) na história da medicina interna. Hoje em dia, um pequeno número de países ainda realiza procedimentos cirúrgicos semelhantes, porém dentro de indicações muito estritas.
 
A Leucotomia Hoje


Hoje em dia a leucotomia tal como exemplificada por Egas Moniz já não é praticada devido aos efeitos secundários severos. No entanto ainda hoje se praticam raramente técnicas directamente descendentes da leucotomia original, mas com a imposição de lesões selectivas em regiões bem delimitadas. Os efeitos secundários destas técnicas são bem mais incomuns, mas devido à irreversibilidade do tratamento e às mudanças na personalidade do doente, elas são utilizadas apenas em última instância caso todos os outros tratamentos possíveis tenham-se revelado ineficazes. É assim praticada em alguns casos de dor crónica intratável (tratamento paliativo), neurose obsessiva, ansiedade crónica ou depressão profunda prolongada.

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